Queridos amigos,
Esse boletim começa diferente, não com um apelo, mas uma confissão. Por isso pedimos que leiam pelo menos essa confissão até o final, por favor. Todos os dias enfrentamos uma guerra. Cada pessoa enfrenta a sua, seja para trabalhar, para estudar, com a família ou com questões de saúde e a nossa é para salvar os felinos mais fracos e doentes da cidade de São Paulo. Dizer "da cidade" não é exagero, já que, como vocês podem imaginar (por conta do nosso trabalho bem feito e reconhecido), somos sempre as mais procuradas. Gatos sem pernas, gatos com órgãos para fora, gatas parindo, quase todos acabam conosco. Somos ameaçadas, ouvimos desaforos e vemos fotos e apelos que já nos teriam feito desistir desse trabalho há muito tempo se não o fizéssemos apenas por amor. Estamos cansadas dos colecionadores de animais, pessoas que não podem nem com 2 e querem ter 100, 200 animais. Não os alimentam, não cuidam e depois recebemos as fotos do estado deplorável deles. Isso quando os "donos" não morrem ou adoecem... Todo mundo quer trazer gatos para o AUG. Até mesmo a gente tem limites, porque também queremos viver um pouco, ter família. Estamos adiando planos e mais planos por 8 anos pelo AUG e merecemos ter um pouquinho de sossego né? Infelizmente o sossego nunca vem. Antes chegam os casos que nos comovem e, mesmo tendo tido um prejuízo de 20 mil reais por causa de gatos doentes em agosto, nos viramos. A casa da Susan cheia de gatos sendo tratados. Tem até uma gatinha que se alimenta por sonda. A Susan faz a comida, coloca na seringa e medica para economizarmos UTI; a casa da Juliana cheia de gatos doentinhos que precisam de remédios em horários difíceis; o abrigo com mamães e seus filhotes crescendo em gaiolas; e algumas voluntárias também fazem o mesmo em suas casas. Não bastasse estarmos exaustas com tantas desgraças e a correria sem fim para darmos conta dos nossos acolhidos, estamos emocionalmente muito abaladas. Perdemos muitos gatinhos esse mês, muitos recém-nascidos, muitos bebezinhos e até mesmo algumas mãezinhas que deixaram seus filhos para nós cuidarmos na mamadeira. Cada vidinha que se vai deixa um buraco no nosso peito. Mas esse não é um trabalho que podemos dizer: "Ok, já cansei, não quero mais brincar disso". Se fizermos isso, 400 animais ficam desamparados. E não porque os colecionamos, até porque vocês viram no boletim passado que doamos 95 gatos em um mês (um recorde!). O problema é que doamos 95 e temos que socorrer mais 150.
Para piorar resolvemos que não podíamos mais ignorar os apelos desesperados de uma amiga e que tínhamos que ajudar 40 gatos de Cidade Tiradentes de uma pessoa que perdeu o controle e deixou os gatos famintos, doentes e precisando de ajuda. Começamos pegando 2 e acho que as fotos dizem tudo. Eles tinham fome, vermes e iam morrer. E morrer de fome é algo que não admitimos. Foram internados e pela aparência achávamos que seriam muito doentes, mas era desnutrição. Uma semana de cuidados, exames de sangue e eles estavam liberados. Mais uma semana de boa comida, vitaminas e muito amor e olhem que diferença. Essas fotos resumem o que viemos pedir: ajuda. Nos ajudem a deixar todo resgatinho que recebemos nesse primeiro estado a ficarem lindos, alegres, brincalhões e saudáveis.
Quando mostramos as fotos do antes e depois para a amiga que pediu ajuda, ela nos escreveu dizendo que não era o mesmo gato, que era impossível, apesar de saber que somos dedicadas, que nenhum gato melhora assim em 4 semanas. Então mostramos as fotos dele durante o tratamento, para ela ver o desenho do rosto, a patinha raspada e dizer: "É ele sim!!!" Não é maravilhoso de ver? Parece outro gatinho! E a amiguinha que veio com ele também ficou linda. Quando chegaram chamamos de Farrapo e Fiapo justamente pelo estado lamentável que estavam e olhem agora! Vão precisar de outros nomes! :-)
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