Revista Estilo Damha - Fevereiro 2013
O SilIêncio dos Inocentes
"A compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de caráter. Pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem." Arthur Schopenhauer
Até pouco tempo, as causas ligadas à defesa e ao combate à violência contra os animais estavam limitadas, praticamente, aos pequenos grupos de pessoas que, todos os dias, dedicam seu tempo, sua vida e seus recursos à tentativa de minimizar situações de abandono, crueldade e violência. Fato que está mudando com o auxílio da internet e, principalmente, das redes sociais. Diante das centenas de denúncias divulgadas diariamente nos sites e perfis de entidades, ONGs e protetores independentes, mídia e sociedade parecem, finalmente, estar adquirindo consciência da verdadeira dimensão do problema.
Um ano após a manifestação “Crueldade Nunca Mais”, que reuniu mais de 100.000 pessoas em cerca de 200 cidades no Brasil, Estados Unidos e Inglaterra, em 22 de janeiro de 2011, num pedido por leis e punições mais severas em casos de violência, abandono, posse irresponsável de animais domésticos e silvestres e a proibição de práticas cruéis como a experimentação em laboratórios e rituais religiosos, alguns progressos foram feitos, mas a caminhada na direção da solução desses problemas é lenta e cheia de obstáculos.
ALGUMAS BATALHAS, UM DIA A GUERRA
“Titã” e “Sargento”, dois cães que se tornaram símbolo da luta contra os maus tratos após terem suas histórias veiculadas por grandes emissoras de televisão, jornais e revistas participaram do protesto. “Além da presença de várias autoridades locais, entre eles a juíza de direito Dra. Erika de Souza – que ajudou muito na recuperação do Titã contribuindo, entre outras coisas, com a alimentação especial da qual ele precisava –, compareceu ao evento a médica veterinária Viviane Cristina da Silva, que cuidou noite e dia do Titã após ele ser resgatado do local onde passou mais de 12 horas enterrado e que adotou o filhote e cuida dele até hoje. Lá, o Titã teve a companhia do ‘Sargento’, cão que sobreviveu à chacina de Itajobi/SP, quando seu antigo dono realizou vários disparos contra ele, a cadela e o filhote com os quais vivia. Somente ele se recuperou e foi adotado pelo soldado que o encontrou agonizando no mato. Foram essas histórias, o caso da yorkshire que morreu espancada pela dona em Goiás diante de uma menina de 2 anos e tantos outros, que proporcionaram essa manifestação no Brasil e em outras cidades fora do país. Houve uma repercussão muito grande. Pessoas da África do Sul, Inglaterra, Nova Iorque, Argentina e outros lugares ligavam para saber do Titã. A comediante e atriz Nany People deu muito apoio à recuperação dele” – disse Marco Antônio Rodrigues, presidente da Associação Mão Amiga, que realizou o resgate dos cães e atua como entidade de destaque na sua região.
Segundo ele, um dos grandes problemas para a apuração e punição de crimes dessa natureza no Brasil é o fato de que não existem delegacias e institutos médicos legais voltados para o atendimento desses casos. “De tudo que aconteceu, o que mudou? Percebo que as pessoas estão mais atentas aos atos de maus tratos. Não existe no Brasil o IML dos animais, ou seja, alguém que providencie um laudo, fotos dos animais vítimas de maus tratos. Isso só é possível através de uma ONG ou de alguém muito interessado no bem estar dos animais, portanto, quando presenciar um ato de maus tratos, não fique calado. Denuncie! Tire fotos. Se você não fizer nada para impedir, os animais não tem como fazê-lo. Nesse sentido, o trabalho da ONG Mão Amiga tem sido muito importante em Novo Horizonte”.
A respeito da legislação brasileira e das providências tomadas para solucionar situações de violência contra os animais, Marco Antônio completa: “Espero que um dia tenhamos leis mais severas, hospitais públicos veterinários e delegacias de polícia para animais em todas as cidades. Isso é o mais importante, o essencial. Sei que é um sonho, mas só assim estaremos próximos de colocar um fim às crueldades contra os animais”.
VIVA E DEIXE VIVER
É difícil relacionar o termo justiça às leis responsáveis por punir boa parte dos crimes cometidos no Brasil, ainda assim, qualquer avanço em nome da chamada “causa animal” é recebido por ONGs e protetores como uma vitória.
“Temos avançado no que diz respeito às leis brandas que temos hoje. A população já mostrou que está em busca de medidas punitivas rigorosas para crimes bárbaros, como são os de maus tratos aos animais. Estamos longe do ideal mas, através de abaixo assinados e manifestações, conseguimos que o congresso incluísse em sua pauta projetos de lei que beneficiam o bem estar animal, muitos ainda em trâmite, mas que podem ser um divisor de águas, caso aprovados e a criação da 1ª Delegacia e Promotoria de Defesa Animal. Atualmente, apenas São Paulo e Campinas contam com esse serviço, mas este é apenas o começo. Outra vitória significativa foi a aprovação da lei estatual (SP) que obriga fabricantes a incluir no rótulo de seus produtos se contém em sua formulação elementos de origem animal ou foram testados em animais. O consumidor agora poderá escolher se deseja ou não adquirir produtos desse tipo” – diz Nelma Favilla Lobo, protetora independente. Ela também defende a participação da população como única forma de evitar que crimes contra os animais continuem acontecendo. “É preciso denunciar. Mais que isso! É preciso agir, para que o que hoje são exigências, um dia se torne o simples reflexo daquilo que todos nós desejamos: respeito”.
Ao falar sobre a evolução da condição dos animais nos últimos anos, Karina Motta – responsável pela ONG Cachorro Ajuda que, apesar do nome, fornece suporte a cães e gatos – procura ser otimista. “Foram muitas as vitórias, mas a violência contra os animais ainda é muito grande. Nossa ONG cresceu e, com isso, o número de casos e denúncias também. Todos os dias mais e mais pessoas contam com a Cachorro Ajuda para pedir socorro a algum animal vítima de maus tratos ou abandono. Esperamos que isso seja reflexo de conscientização e não o aumento da brutalidade. Temos que dar continuidade aos trabalhos, exigindo cada vez mais respeito e proteção aos animais. Queremos paz. Que daqui um ano nosso objetivo de acabar com a violência esteja mais perto.”
AMOR E RESPONSABILIDADE SOCIAL
O grande número de animais em situação de abandono e maus tratos ainda pelas ruas é motivo de preocupação para ONGs e protetores, uma vez que praticamente não existe suporte financeiro governamental para instituições dessa natureza. Aqueles que se dispõe a realizar esse tipo de trabalho passam a depender de doações e da caridade de pessoas e empresas privadas. Muitas não conseguem dar continuidade às suas atividades e todas as que estão em operação enfrentam dificuldades para saldar suas dívidas. Sem exceções.
Para cães e gatos em condições de serem adotados, a batalha mais importante é contra o preconceito. Quanto maior a semelhança com um animal “de raça”, maior a chance de adoção. Muitas pessoas ainda preferem dispender grandes quantias na aquisição de um animal ao invés de visitar um abrigo.
Susan Yamamoto e Juliana Bussab – fundadoras da ONG Adote um Gatinho – ressalta a importância da castração como parte fundamental do processo de controle populacional e, consequentemente, dos atos de violência contra os animais. A AUG, assim como muitas ONGs, somente realiza a doação de animais esterilizados. “O Adote um Gatinho completa este mês – janeiro/2013 – 10 anos de história e a marca de 5.200 felinos castrados e doados. Alguns deles foram abandonados, outros fugiram e se perderam. Muitos sofreram maus tratos. Nos orgulhamos muito desse número e esperamos multiplica-lo nas próximas décadas. Existem mais pessoas preocupadas com o bem estar e o respeito aos animais hoje do que há 10 anos. Ainda que lentamente, observamos avanços no modo em que os animais são alimentados e tratados. Hoje, muitos deles realmente fazem parte da família. Cresce também o número de pessoas que se sensibilizam com a condição dos animais abandonados. Esperamos que as leis pensadas para punir os praticantes de maus tratos sejam integralmente aprovadas no novo código penal e que possamos dar um grande passo, ou melhor, um salto na proteção animal”.
GATOS SORTUDOS – HISTÓRIAS EMOCIONANTES DE BICHANOS RESGATADOS
Lançado em 2011, o livro que conta a vida de 12, entre os milhares de animais resgatados pela Adote um Gatinho, é uma leitura emocionante e está à venda nas maiores livrarias do país e tem parte da renda destinada aos bichanos sob os cuidados da ONG.
ÚTIL
Associação Mão Amiga
Caixa Econômica Federal: 104
Agência: 0801
C/C: 003864-7
www.facebook.com/maoamigaong
Adote um Gatinho
Itaú: 0341
Agência: 2970
C/C: 12869-6
www.adoteumgatinho.com.br
Cachorro Ajuda
Banco do Brasil: 001
Agência: 0295-X
C/C: 64.741-1
www.facebook.com/cachorro.ajuda
Para ler a revista na íntegra, acesse o link: http://www.damha.com.br/revista/